quarta-feira, 30 de maio de 2012


Debate em Adamantina

Em Adamantina este bate papo fez parte da programação do projeto “Roda Cultura” no distrito de Lagoa Seca. Tivemos o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e a conversa foi animada e se não fosse o horário adiantado para o almoço o papo iria mais longe.
Estavam presentes vários funcionários da própria Secretaria Municipal de Cultura como o Passarinho, a Jurema com seu filho Enrico seu marido o grande cozinheiro Valter, o Acácio, Henrique, Irisvaldo, Patrícia e a Cintia com o Pedro seu filho.
Fizemos uma prévia do que pretendíamos ali com nossas discussões sobre a realidade local do cotidiano artístico dos grupos de artes e as políticas voltadas para a cultura no âmbito municipal.
A administração pública em qualquer Secretaria tem que ser planejada, discutida e avaliada junto com os beneficiários da mesma e não seria diferente na área da cultura. Em Presidente Prudente, nossa experiência nesta participação junto a Secretaria de Cultura foi das piores no Conselho Municipal de Cultura. Passamos por vexames com manifestações cretinas, mentiras do próprio Secretario Municipal Fábio Nougueira e coerções do poder público municipal e foi necessário explicar mais a fundo a este grupo que se iniciava a conversa os motivos pelo qual somos contra a ação apática, personalista e coronelista dessa pasta sem sermos partidários em nossas avaliações sobre as políticas feitas que não podem ser consideradas como pública e produzida pela elite e para a elite. O pior é que este comportamento podemos perceber em vários outros municípios pelo país afora e quando queremos ver as informações sobre como as ações do governo foram feitas (prestação de contas) não nos é permitido avaliar.
Na seqüência de nossa fala o Acácio fez uma explanação sobre o panorama em Adamantina com as ações de sua administração como secretário. Ele afirmou que depois de um período sem muitas novidades na cidade, começaram os trabalhos inspirados em uma gestão anterior feita por Silvio Graboski na tentativa de um resgate de algumas ações que foram perdidas ao longo dos anos tentando reconstituir um cenário de manifestações artísticas que havia nesta gestão citada. Porém, os recursos pra cultura em uma cidade pequena também é muito pequeno é se faz necessário buscar financiamento em outras fontes que não só a prefeitura municipal, apesar de terem também uma boa relação também com o governo do Estado. E, aos poucos conseguiram provocar as pessoas da cidade com o início de uma pequena programação de artes que sempre teve minimamente um resultado favorável de público e crítica.
Com isso perceberam que, de certa maneira, estavam construindo um cenário que dava suporte pra criação artística, havia um pequeno fomento a arte local na Banda Marcial com mais de 20 anos de trabalho, o teatro com a Cintia, Tiago Casado e o Rafael (Báquicos), o artesanato e outras manifestações da cultura popular.
Também falou da dificuldade em engrenar algumas ações culturais e de como pode ser solucionado esse problema. O Tiago se lembrou do exemplo em Mirandópolis que fomos em uma apresentação através do Circuito Cultural e tivemos pouco público e depois voltamos lá e percebemos que estava acontecendo mudanças. A conversa com a representante da cultura de lá foi boa e realmente tivemos outro perfil de público. Realmente algumas ações, como estes exemplos de maturidade para a formação de público, demoram um tempo pra funcionar de maneira eficiente. Outro exemplo é o nosso Ponto de Cultura que agora começa a ter resultados melhores. Contamos a história do ICC (Índice de Chutamento de Canela). O ICC é medido pelo tanto que apanhamos da molecada nos bairros por onde fazemos questão de levar nossa programação. Aos poucos o ICC baixou a quase a zero e o bem cultural começa a ser visto de outra maneira pelo público e pela própria molecada que antes não conseguiam ficar quietos. Mas existe também a necessidade de uma programação mais constante. Com o Ponto de Cultura em 2010 conseguimos levar 95 atividades para a periferia da cidade de Presidente Prudente coisa que sem o Ponto de Cultura dificilmente teremos condições de fazermos isso novamente.
A facilidade das programações serem feitas na rua atraem as pessoas. Percebemos que existe um receio muito grande do público em se aproximar. Receiam por diversos motivos, por acharem que isso é coisa de gente rica, por acharem que não vão gostar, por suas vestes, etc. E isso se dissipa aos poucos. Isso passa por uma compreensão do direito que as mesmas têm em ver Arte. Do público que pretendemos as crianças aceitam mais fácil a novidade, os adolescentes chegam com reticências e os adultos por final se aproximam quando se sentem mais seguros que não vão ser aviltados ou que não será uma programação chata de se acompanhar de maneira obrigatória. Quando eles percebem que não tem nenhuma vinculação com brindes, comida, política, prêmios ou festividades outra que não seja apenas o bem cultural para serem apreciadas e pouco a pouco estas pessoas nos reconhecem como alguma coisa diferente e que antes não tinham contato mesmo. Aos poucos, sem precisar falar como se vestir para ir as nossas programações ou como se sentar para apreciar os bens culturais ofertados, as pessoas começam a valorar o que recebem e entender que o que estamos fazendo verdadeiramente é pra eles. As vezes sentimos que esses avanços feitos se aproximam com a idéia de frentes pioneiras. Porém, não é um erro levar programações para o centro das cidades, o problema é apenas levar para lá em detrimento dos demais lugares da cidade.
Levando em consideração estes aspectos que são primários pensamos a relação que acontece nos bairros. Esse é o ponto de partida e as pessoas destes lugares devem vir conosco na construção desse processo. Não queremos soluções que venham de escritórios fechados com negócios escusos que se julgue no direito de dizer o que deve ser feito. Deve ser levado em consideração o pensamento coletivo.
 Se pensarmos a cidade como um todo percebemos que Saúde, Assistência Social e educação já estão chegando à maioria dos bairros da periferia da cidade. Porém, no caso de Presidente Prudente, por exemplo, cria-se um ícone de cultura em ponto específico da cidade que é o Centro Cultural Matarazzo, mas esse ícone é falso e insuficiente para servir a população da cidade como um todo. Uma família desprovida de recursos não sai de um bairro periférico para ir ao centro ver uma exposição fotográfica que seja. Fazendo outra análise, se por acaso, fossemos servir a cidade com cultura e arte em sua plenitude não daríamos conta da demanda e levaríamos um tempo para entender essa nova dinâmica.
Isso é apenas o processo de formação de público que falamos acima e a formação dos grupos novos de arte é mais difícil e complexa ainda. Os grupos surgem e além dos problemas enfrentados na relação cotidiana de problemas e falta de recursos os mesmos fazem trajetórias enormes de desencontros baseados no amadorismo de suas ações. Existe uma necessidade de um suporte para que os grupos possam se formar artisticamente para além da formação das escolas e de uma maneira mais empírica e não paternalista.
A discussão foi mais longe sobre isso.
Quem vai pagar pelo processo de formação de um artista?
Lembramos da discussão em Ilha Solteira com as alunas do Balé e do “Paitrocínio”. Ou seja, se não for a família que dá certo apoio a coisa não vai pra frente de maneira alguma. Se não tem isso apela pra onde? Por estes e outros motivos é que os grupos têm muita dificuldade em se dedicar a ensaios e outros processos formativos fazendo obras de arte de pouca qualidade e sem interesse público.
Podemos perceber em Adamantina que a dinâmica cultural não é de uma cidade de 35 mil habitantes do interior do estado. A Secretaria sempre tem alguma programação com qualidade e isso é uma política do governo municipal atual e os funcionários desta Secretaria acreditam que quando mudar o governo a população vai cobrar por uma programação de qualidade. Isso por conta das ações no Conselho Municipal de Cultura e da maneira como os próprios funcionários públicos trabalham na cidade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário