sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Crítica do Saltimbembe em Cuiabá

Nossa participação no Festival Zé Bolo Flô  em Cuiabá MT foi rápida, mas muito significativa.


Compartilhamos abaixo a crítica escrita por Lorenzo Falcão:

ZÉ BOLO FLÔ

Teatro de Rua invade o centro de Cuiabá

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Trupe de Presidente Prudente (SP) conquistou o público
Atravessado em minha cabeça estava um pensamento. Um certo temor, digamos. Na primeira edição do 
Bolo Flô, há dois anos, o festival foi aberto com o impressionante "Das saborosas aventuras de Dom Quixote
 de La Mancha e seu Escudeiro Sancho Pança", montagem de rua do grupo Teatro que Roda (GO).
E estava este resenhista na maior torcida para que a abertura deste segundo Bolo Flô também fosse arrebatadora. E foi!!!

Teatro de rua não é moleza. Não é fácil gastar o talento fora de um espaço cênico como um teatro, lugar apropriado com propriedades e aparatos tecnológicos que ajudam um bocado, por que detalhes como luz, som e cenário catapultam espetáculos de tal maneira, que às vezes até ofuscam o trabalho dos atores.
 Na rua, não. A representação é diferente e o ato de encenar está sujeito a todas as imprevisibilidades possíveis. É o teatro em carne e osso, a mercê da voz maior, da capacidade de improviso e da
especialidade em interagir com o público.

O Circo Teatro Rosa dos Ventos surgiu em 1999, através de uma galera de estudantes universitários em Presidente Prudente, e acabou se engajando num movimento cultural que continua ribombando. Corre
trecho por aí com inúmeros compromissos e vieram parar em Cuiabá com os seguinets integrantes: Luís Valente, Fernando Ávila, Gabriel Mungo e Tiago Munhóz - quatro palhaços; e mais o multiinstrumentista Robson Toma (ou China), que faz aquela linha "banda com um músico só".

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Pernas de pau... craques nas artes circenses
Um público flutuante de umas trezentos pessoas circulou pela Praça da República durante a encenação que durou aproximadamente uma hora e vinte minutos. Nos primeiros vinte minutos, enquanto enchiam linguiça, esperando a chegada de
 um cortejo que percorreu ruas do centro cuiabano, convocando
 o público, eu já estava lacrimejando de tanto rir.

Os artistas circenses soltaram a verve enquanto improvisavam truques de telepatia espalhafatosa e se maquiavam. Já demonstravam um pleno domínio no quesito "saber o que se 
quer e como fazê-lo", conquistando de imediato a plateia. À frente de uma pequena tenda mambembe que mal parecia cabê-los, multiplicavam-se em estripulias, piadas e trejeitos que
acompanham a eterna dinastia clown, surgida no
século XVI, para nunca mais sair de cena.

Começado pra valer o espetáculo, a postura conquistadora do palhaço ganhou corpo e força, entremeada com técnicas como
 a perna de pau e os malabares. Muita destreza nas manobras e uma infalível presença cênica - e de espírito, arrebataram o
 público composto por pessoas de todas as idades e classes sociais. Este, o público, volta e meia, era convocado a participar
 das encenações. Uma interação completa. Show de espetáculo.




"O que escrever sobre isso?", sondou-me o bravo Carlinhos Ferreira, também convocado para resenhar
 os espetáculos. Em dois minutos de conversa concordamos que o alto nível do desempenho nas artes circenses estava estabelecido, apesar de "não termos visto nada de novo". O que, absolutamente, não
 deve ser entendido como um comentário depreciativo. Noutras palavras, a trupe Rosa dos Ventos, fez,
 com louvor, o seu dever de casa.

Entreteu com garbo uma plateia multifacetada, abrindo honrosamente a segunda edição do Zé Bolo Flô.
 Devo chamar a atenção dos internautas sobre essa proposta "deselitizadora" que abrange um evento de teatro de rua. Desde que me entendo por gente, gente que aprendeu a raciocinar e entender em torno da história da arte, ela - a arte - sempre esteve associada com as elites, que sempre tiveram muuuiiittooo mais acesso às artes, do que as pessoas menos abastadas. Daí, que quando você leva a arte para as ruas,
 está quebrando e estraçalhando paradigmas. Paradigmas são coisas que existem para ser mesmo quebrados.

Outras "cositas"

Conforme já sugeri, a luz poderia ter sido mais valorizadora do espetáculo. Mais estudada, mais pensada, enfim, enriquecedora da encenação. Não o foi. E esse problema, que inclusive, suscitou piadas dos artistas,
 foi agravado por aquela luz de vários cinegrafistas que fizeram a cobertura do evento. Por outro lado, a presença das emissoras de televisão - acho que pelo menos três delas por ali estiveram, é sempre muito
 bem vinda, por que o Bolo Flô é um festival que merece todo o carinho e a atenção dos meios de comunicação.

É preciso aqui o reconhecimento do esforço que a Band MT vem demonstrando nas coberturas de eventos culturais. Não é a primeira vez que flagro uma equipe da emissora acompanhando do começo ao fim uma iniciativa artística. Merece pois, a emissora e seus profissionais, o nosso elogio.

O som... eita trabalheira lascada que é montar e conduzir as tecnologias sonoras, ainda mais em ambientes externos. Na parte final do espetáculo, alguns microfones dos atores "ratearam", mas não chegaram a comprometer o resultado final.

E a marcação cerrada deste Tyrannus prossegue até domingo, chegando junto a todos os espetáculos que serão apresentados. Seguindo sempre aquela linha que costumo pontuar aqui: a gente trabalha, mas se diverte.

Nervoso. É o Tyrannus neste último mês do ano, até na tampa de afazeres, e ainda assumindo pelo
menos mais um... extra. O convite irrecusável do Tibanaré, grupo teatral de MT que organiza o 2º Festival
 Zé Bolo Flô de Teatro de Rua, para eu assistir todos os espetáculos e escrever sobre eles, começou a
 vigorar neste primeiro de dezembro, quando a trupe Rosa dos Ventos, de Presidente Prudente (SP),
 encenou "Saltimbembe Mambembancos". Claro que fui lá...
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Rosa dos Ventos (SP) fez, com louvor, o seu dever de casa
Fonte: http://www.tyrannusmelancholicus.com.br/conteudo.php?sid=311&cid=6704

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