terça-feira, 29 de novembro de 2011

Debate em Vitória-ES (20112011)



Estivemos em Vitória por conta do VII Festival Nacional de Teatro apresentando nossos dois espetáculos "Saltimbembe Mambembancos" e "A Farsa do Advogado Pathelin" e tivemos um bate papo com Cleverson Guerrera da Cia Vira Lata (Vitória - ES), Marilda (Prof. Geografia da UFES em Vitória), Denise (Grupo Somos 10) e José Celso Cavalieri (Produtor Teatral).
Todos falaram sobre suas experiências (pequenos históricos artísticos) com seus grupos e foram feitas diversas comparações entre nossas produções.
A conversa foi acalorada sobre nossos espetáculos. Explicamos que na rua temos muitas experiências boas e outras ruins. São muitas as condições adversas que passamos e os resultados realmente são variáveis. Cleverson (Cia Vira Lata) viu nosso espetáculo em Guaçui – ES, situação em que estava trabalhando como júri do festival de lá, e, pelas coisas da vida, foi um espetáculo com muitos problemas. Um deles, o sol muito forte, atrapalhou a realização do trabalho que comprometeu realmente a função. Já em Vitória, apesar da chuva, sua percepção foi outra. Gostou muito dos espetáculos e disse que mudou de opinião sobre o grupo, inclusive achou que a situação de estarmos 30 minutos antes do início do espetáculo já no local se maquiando e conversando com as pessoas é muito boa e realmente prepara o público para o que virá. Chamamos essa meia hora antes de "Esquenta".
Este encontro nos fez pensar muito sobre estas situações adversas e já sabemos que temos que tomar muito cuidado com os horários dos espetáculos e o local onde será apresentado e as condições em que colocaremos o público. Se chove a gente reclama, se faz sol a gente reclama, se faz frio a gente reclama, mas sempre buscando a situação ideal para a acomodação do público em espaços alternativos.
Em conversa informal anterior sobre o improviso em espetáculos teatrais com os integrantes do Groupe Théâtre D'Or (França) no hotel eles explicaram que o mesmo serve como uma técnica e que estavam também trabalhando com isso em seus espetáculos essa técnica serve como uma carta na manga. Na hora certa, momento y com situação x, você joga essa carta fazendo uma brincadeira e depois retoma o texto da história que esta sendo contada novamente. Em nosso cotidiano, além de usar o improviso na apresentação, fazemos isso também com nossas brincadeiras no dia a dia e muitos improvisos realmente aparecem na hora, porém, o exercício disso cotidianamente entre amigos ajuda muito. Cleverson viu que temos muitas dessas cartas e uma boa sintonia entre nós que facilita a articulação das brincadeiras. Os personagens que depois aparecem nos espetáculos são muito próximos do que são os atores, como nossos trejeitos ampliados. Esse tipo de aprendizado as escolas de teatro não dão. Alias, acredito que não tenha uma escola sobre teatro de rua. O teatro que se ensina é para ser realizado nas caixas fechadas, sem muitas intervenções que são habituais na rua.
José Celso, que é colaborador do festival em Vitória, falou sobre as cenas do Pathelin onde apontamos as peculiaridades locais. O nome do puteiro da cidade, do bairro mais pobre e do bairro mais rico o que traz uma enorme proximidade com o público que acaba por ficar até o final do espetáculo por conta de nossa interação. O "esquenta" que fazemos promove uma naturalidade que logo aproxima as pessoas. (ele cobrou barato pra elogiar a gente assim).
Os espetáculos em Vitória foram muito legais. O público gostou bastante, sinal disso foi a permanência das pessoas em volta do espetáculo mesmo durante os momentos que chuviscou. Vários guarda-chuvas abertos. Foi linda a cena!
Conversamos com Denise sobre seu projeto que também trabalha com acrobacias e outros elementos circenses. Ela não viu nossos espetáculos, mas discutimos sobre a maneira que utilizamos as técnicas circenses. Explicamos que não utilizamos a técnica simplesmente em busca do esmero. Na farsa que apresentamos utilizamos o circo como um auxílio na história. Os malabarismos, acrobacias e o monociclo vem como um reforço para o entendimento da história global.
O bate papo passou pelas questões da política local. Ouvimos as lamúrias deles e eles ouviram as nossas. A micro história do poder local é o mesmo em muitos lugares do Brasil. A dificuldade de encontrar o caminho para uma gestão democrática é geral. Em alguns lugares avanças e em outros retrocessos.
Contamos como a gestão se dá em PP e seus vários erros e mandonismos. Uma de nossas insatisfações que gerou a manifestação “Tijolo não faz arte” é gestão centralizada de artes em Pres. Prudente com o Centro Cultural Matarazzo, um gasto pontual que funciona como ícone, porém sem vitalidade pra garantir as necessidades da cidade como um todo. As verbas do município são muito poucas pra distribuição de artes igualitária e estamos há 15 anos sem nenhum contrato com o governo federal, que poderia ajudar muito nessa distribuição de arte pela cidade. Porém, não são capazes de fazer contratos com o Governo Federal que exige prestar contas!
Em todas as prefeituras a situação repete. Poucos funcionários públicos e a política de editais para a contratação de trabalhos exploratórios. Os artistas trabalhadores não têm as mesmas seguranças que os funcionários públicos e ainda fazem muito mais que eles. O que eles fazem com R$60 mil nos fazemos com R$20 e com uma prestação de contas muito maior, desculpas, eles nem tem prestação de contas.
A situação que vimos em Vitória: Para assistir o espetáculo o cidadão tem que pegar o bilhete ao meio dia e depois voltar a noite. Quantas horas e investimentos demandam essa ação? Se ele for solteiro, caso oposto, casado com 3 filhos seria mais difícil ainda.
Se o espetáculo demora um pouco mais como o novo espetáculo da Cia do Latão o cidadão tem que ir embora a pé porque a circulação de ônibus termina antes do final do espetáculo. O mesmo cidadão que paga o imposto pra essa função.
De novo repetimos aqui. Não somos contra festivais de teatro. Não somos loucos! Somos contra uma simples programação de espetáculos soltos sem nenhum envolvimento com a cidade e concentrado espacialmente e temporalmente. Que ocorram os festivais. Mas não como em Pres. Prudente. Concentra-se as atividades e depois ao longo do ano não se tem mais nada. Nada Mesmo. Isso é um erro.
Em outras áreas o panorama não é o mesmo. A educação já chega nos bairros através das escolas, o atendimento a saúde pública também já esta lá. E assim vai, segurança, cultura e vários direitos do cidadão ficam circunscritos ao centro.
Este caminho de atender os bairros cria uma demanda que o poder público não dá conta. Um exemplo são as ações da FPT nos Bairros da Vila Brasil, Humberto Salvador e Jardim Morada do Sol que demonstram a ponta do iceberg. Se houvesse essa distribuição não teria artista pra tudo isso. Teria uma crise de qualidade dos profissionais. Todo mundo sairia apresentando um monte de merda.
Para além dos pessimismos, a dinâmica política não acontece no tempo histórico dos nossos desejos, ela não acontece na hora que a gente a faz. O que esta acontecendo hoje, por todos os efeitos, foi uma luta progressiva de muitas pessoas, durante as nossas décadas anteriores, no meio de todos os problemas econômicos mundiais respira-se outra proposta de cultura.
O problema é essa tradição autoritária no Brasil que não permite que se em algum momento você falar, quando for ouvido, as suas posições serão respeitadas e consideradas pertinentes ou no mínimo debatidas com lisura.
Estamos por aí respirando o que dá, correndo pra lá e pra cá, tomando pedrada e enchendo o saco da turma!
Movimento da vitalidade.
Cabeça ereta!

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